sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

RESTO

Um cadinho do início da Idade Média, encontrado na rua Jewry Street em Winchester, ao sul da Inglaterra, capital do condado de Hampshire. Fonte: wessexarchaeology.

Após o uso do ferro meteórico, proveniente dos meteoritos, se descobriu o ferro de jazida. “Alguns arqueólogos acham que esse tipo de ferro foi descoberto quando da redução de minérios de cobre nos quais ele estava presente: como o ponto de fusão do ferro é superior ao do cobre, ele teria deixado um resíduo no fundo do crisol, que os metalurgistas em seguida teriam podido trabalhar em casa” (Michel Rival in As Grandes Invenções da Humanidade v. 1, editora Larousse, 2009, p.79).

 
Só podemos imaginar esta cena linda. Lá está um cobreiro que ainda não sabia que seria ferreiro, lá está em frente ao crisol, ao cadinho, pingando de suor, diante do fogo, animando o fogo, dando-lhe vida, a sua, em busca do cobre. Ele só entende de cobre, só quer saber de cobre, o cobre é sua meta, o cobre é seu ganha-pão, e aí esse encontro inesperado, esse encontro que mudaria sua vida para sempre, o encontro com o resto, o encontro com o resíduo, o encontro com o desconhecido. O que fazer do resto? Muitos cobreiros jogaram esse resto fora, muitos cobreiros se livraram rapidamente dessa impureza, dessa esquisitice, dessa diferença entre o buscado e o encontrado. Mas o futuro ferreiro teve medo, teve inquietação, teve curiosidade. Ele já trazia em si a pele queimada, ele já havia há muito contrariado o mandamento paterno de não mexer com o fogo para não se queimar. Ele, queimado, ele, curtido, ele deixou esfriar este resto, ele pegou este resto, ele bateu com o martelo neste resto, ele aqueceu-o de novo, ele foi respingado por esse resto, ele desaqueceu-o, ele fez desse resto insígnia – mesmo sem saber como nomeá-lo, mesmo sem saber o que fazer disso. Resto enigma.

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